Pesquisadora do GDPP organiza miniconferência
A Sociedade para o Avanço da Socioeconomia (SASE) realizará seu congresso anual de 2025 com o tema “Solidariedades Inclusivas: reimaginando as fronteiras em tempos de disputa”. O evento ocorrerá de forma virtual entre os dias 1 e 3 de julho e presencialmente em Montreal, de 9 a 12 de julho. Entre as atividades programadas, destaca-se a Miniconferência 5 (MC05), intitulada “Reimaginando os limites dos sistemas agroalimentares: divisões disciplinares e desafios contemporâneos”, organizada por Gustavo Setrini (FLACSO, Paraguai), Arturo Ezquerro-Cañete (Universidade Saint Mary, Canadá) e Mariana Levy (GDPP/USP). Propostas podem ser enviadas até o dia 16 de dezembro de 2024.
Entenda mais
Nas últimas décadas, os sistemas agroalimentares tornaram-se muito mais politizados e tendem a permanecer assim diante das crises alimentares atuais. O retorno da insegurança alimentar, impulsionado pela inflação decorrente de interrupções nas cadeias de suprimento durante a pandemia (Akram-Lodhi, 2021) e guerras em regiões como Ucrânia e Palestina (Hall, 2023), é agravado pelas crises migratórias e de refugiados (Delgado Wise e Veltmeyer, 2016), pela redução de políticas de proteção social, pela financeirização do sistema agroalimentar (Clapp e Isakson, 2018) e pelo retorno de modelos de desenvolvimento agroextrativistas no Sul Global (McKay, Alonso-Fradejas e Ezquerro-Cañete, 2021). A agricultura, como causadora e vítima das mudanças climáticas, enfrenta desafios significativos, incluindo a dependência de métodos intensivos em carbono, rendimentos altamente sensíveis a variações de temperatura e precipitação e o aumento da incidência de doenças nas culturas.
Os conflitos sociais e políticos decorrentes da produção de alimentos e da agricultura devem ser compreendidos no contexto de um sistema agroalimentar global moldado pela história do capitalismo e do império. Nesse sistema, certos grupos e interesses tornaram-se politicamente poderosos, ricos e altamente organizados, enquanto outros são fragmentados por formas objetivas e subjetivas de diferença. Essas diferenças manifestam-se em uma rede altamente concentrada e internacionalmente conectada de interesses corporativos e financeiros, em contraste com consumidores e produtores heterogêneos, socialmente estratificados e organizados em nível nacional ou local. Estados e governos, com economias políticas internas altamente heterogêneas, buscam seus interesses em um sistema internacional hierárquico.
Para compreender as dinâmicas e a evolução desse sistema, estudiosos desenvolveram quadros teóricos como “Regimes Alimentares” – que traça mudanças desde o primeiro regime alimentar liberal global do século XIX, passando pelo segundo regime alimentar global, composto por agriculturas nacionais e mercados globais regulados no século XX, até o regime alimentar neoliberal do final do século XX e início do século XXI. De maneira similar, o conceito de “Paradigmas de Políticas Alimentares” ajuda a entender a transição de uma preocupação com a produção de calorias suficientes para alimentar populações crescentes para paradigmas “pós-produtivistas”, nos quais tanto o ativismo político quanto as estratégias corporativas contemplam as dimensões sociais, ambientais e culturais dos alimentos. Em resposta às crises atuais, surgem disputas entre interesses diversos para institucionalizar visões divergentes sobre o futuro do sistema agroalimentar.
No entanto, o estudo social da alimentação e da agricultura está fragmentado em diversos campos disciplinares, como sociologia rural e urbana, ciência política e antropologia; em novas áreas interdisciplinares, como Estudos Críticos Agrários e Alimentares; e dentro de disciplinas ligadas às ciências da vida, como nutrição, medicina e agronomia.
Propomos uma mini-conferência e uma série de painéis para construir pontes entre essas divisões disciplinares. Criar interações e construir conhecimento entre essas divisões é essencial para identificar solidariedades mais amplas e inclusivas que possam emergir no sistema agroalimentar entre os diversos grupos, identidades e interesses que surgem em relação aos seus diferentes setores, geografias e histórias.
Temas para Discussão:
- Alimentação versus Agricultura: Explorando interseções e tensões entre produção alimentar e práticas agrícolas.
- Sistemas de Produção Alimentar versus Cultura, Identidade e Semiótica Alimentar: Examinando a relação entre sistemas que produzem alimentos e os significados culturais, identidades (nacional, de classe, racial e de gênero) e símbolos associados à alimentação.
- Geografias Urbanas versus Rurais: Investigando as dimensões espaciais dos sistemas agroalimentares e as diferentes experiências das comunidades urbanas e rurais em relação à terra, recursos naturais e produção e consumo agroalimentar.
- Política versus Políticas Agroalimentares: Analisando as dinâmicas políticas e os marcos normativos que moldam os sistemas agroalimentares em várias escalas.
- Sistemas Agroalimentares no Norte Global versus Sul Global: Compreendendo conexões, convergências e divergências nas trajetórias dos sistemas agroalimentares entre o núcleo capitalista, semiperiferia e periferia.
Envio de Resumos:
MC05 aceita resumos de aproximadamente 1000 palavras (prazo final: 16 de dezembro de 2024). Se seu resumo for aceito, será solicitado (mas não exigido) o envio de um artigo completo antes do congresso em Montreal (9 a 12 de julho de 2025). Os organizadores entrarão em contato sobre prazos e especificações.
MC05 organizará uma sessão virtual durante os dias do congresso virtual (1 a 3 de julho de 2025), bem como uma sessão híbrida durante o congresso presencial (9 a 12 de julho de 2025).
As submissões podem ser realizadas através do processo usual, detalhes aqui:
https://sase.org/event/2025-montreal/#submission-guidelines
Sobre a SASE
Fundada em 1989, a Sociedade para o Avanço da Socioeconomia (SASE) é uma organização internacional e interdisciplinar com membros em mais de 50 países nos cinco continentes. As disciplinas acadêmicas representadas na SASE incluem economia, sociologia, ciência política, gestão, psicologia, direito, história e filosofia. A SASE também conta com membros do setor empresarial e formuladores de políticas públicas em governos e organizações internacionais.
Objetivos da SASE:
- Avançar na compreensão do comportamento econômico em uma ampla gama de disciplinas acadêmicas.
- Apoiar a exploração intelectual do comportamento econômico e suas implicações políticas no contexto de fatores sociais, institucionais, históricos, filosóficos, psicológicos e éticos.
- Equilibrar abordagens indutivas e dedutivas para o estudo do comportamento econômico nos níveis macro e micro de análise.